sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Caminho para Cristo: Samuel


Continuamos a percorrer a “estrada para Jesus Cristo” no Antigo Testamento. Hoje, iremos conhecer a vida de Samuel. Samuel foi o último juíz de Israel e o primeiro profeta.

Quando olhamos para a Bíblia com os nossos olhos, podemos cair no erro de observar as histórias na perspectiva de obtermos o que as personagens tiveram, principalmente as vitórias por eles alcançadas. É curioso que tendemos a almejar aquilo que receberam, mas não desejamos aquilo que sofreram. Termos uma visão deste género pode trazer-nos alguns dissabores.

Aquilo que esperamos de Deus reflete o nosso carácter.

Cristo é a chave para a interpretação das Escrituras. A Bíblia é composta de histórias dos actos de Deus com vista à consumação da redenção por meio de Jesus Cristo.

Os acontecimentos relatados nas páginas da Bíblia são respostas à exigência da Palavra de Deus, logo não podem ser considerados modelos a serem aplicados a toda a Igreja.

O centro da Palavra é Cristo, pelo que temos de ver as Escrituras à luz de Cristo. Sendo assim, não se deve estabelecer relação directa entre um personagem e um crente. 

Hoje, iremos abordar a vida de Samuel...

O nome “Samuel” significa “Pedido de Deus”, pois o seu nascimento resultou da oração fervorosa de sua mãe (talvez por saber disso, Samuel foi um homem de oração).

Ana, sua mãe, desejava ter muito um filho e orou incessantemente para que Deus lho concedesse. Como retribuição, ela o entregaria a Deus e ao Seu serviço.

Muitas vezes, servimo-nos desta oração de Ana para, no nosso íntimo, validarmos os pedidos que dirigimos a Deus. “Assim como Ana pediu e obteve, eu também posso pedir e alcançar o que desejo”.

A verdade é que Ana não pediu o filho para si, mas para o dedicar ao Senhor. Serão assim todos os nossos pedidos? Seremos nós capazes de entregar a vida dos nossos filhos para o ministério? Seremos nós capazes de dedicar ao Senhor  tudo aquilo que Ele nos proporciona? Tremendo desafio.

Eis o ambiente em que Samuel foi criado: Ao mesmo tempo que os filhos de Eli se iam corrompendo, Samuel crescia e era agradável tanto para o Senhor Deus como para os homens (I Samuel 2:26).

A chamada de Samuel é uma das mais conhecidas em toda a história da Bíblia. Leiamos I Samuel 7:2-6.

V. 3 – Chamada ao Arrependimento.

V. 8 – Certeza do que Deus pode fazer (Fé).

V.9 – Clamor... O Senhor ouviu.

V.12 – Certeza de onde vem a vitória.

Passemos, agora, para I Samuel 8:1-8... Analisemos este texto:

V.3 – Filhos desobedientes.

V. 5 – A grande mudança de Israel passa por aqui.

O povo queria um rei que os pudesse julgar, mas, na verdade desejavam ser como os outros povos.

Percebemos, aqui, que muitos dos nossos erros são o resultado de olharmos para os outros a fim de definirmos o rumo da nossa vida.

Quando queremos viver a vida de forma semelhante à dos não cristãos, estamos a rejeitar o senhorio de Cristo e a dizer-lhe que Ele não sabe o que é melhor para nós; que somos nós que sabemos.

O povo, insatisfeito com o julgamento da parte do Senhor, também não confiava na Sua protecção.

Percebemos também neste texto que a rejeição dos líderes espirituais dados por Deus é, de certa forma, a rejeição do próprio Deus.

Samuel experimentou a mesma rejeição de Jesus Cristo... A grande diferença é que Cristo deu a Sua própria vida para dar-nos a Vida.

O povo foi em frente com aquela escolha, mesmo após ter sido alertado para o que iria acontecer: passariam a lutar por si e os reis que eles tanto desejavam iriam retirar-lhes todos direitos.

A rejeição de Deus é a consequência natural para o ser humano não regenerado por Deus. No entanto, estes continuam a usufruir da Graça comum.

Chegará o dia em que as pessoas perceberão as consequências e a ausência total de Deus – O Inferno.

V.18

Aqui, está em evidência a rejeição de Deus... Um dia clamarão... (Mateus 7:22-23)

V.19

Este versículo mostra a teimosia e arrogância de quem acha que pode viver sem Deus.

V.20

Este vers odestaca  o que o povo pensava. Tinham má memória para a adoração e uma excelente memória para a petição.

I Samuel 10:19:  Este versículo confirma a rejeição do povo para com Deus. Saúl é escolhido para Rei, mas, mais tarde, seria rejeitado por não ter cumprido a Palavra do Senhor.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Estrada para Cristo: Elias


Em Lucas 24:27 lê-se : E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras."
Este versículo mostra que Jesus fazia questão de explicar aos seus discípulos os muitos textos da Bíblia de então que falavam de Si. Percebemos, assim, que todo o Antigo Testamento aponta para Cristo. Ele deve ser o foco das nossas vidas e o fim último de todas as coisas.

E Spurgeon, certa vez, disse: o “Antigo Testamento é a estrada para Cristo”.
Vale a pena, então, procurar essa estrada...  E, hoje, fazemo-lo através da vida do profeta Elias... I Reis 17:1-7 é o texto que serve de base à mensagem.

O nome Elias significa “Já é Deus”. É uma forma abreviada da Palavra “SENHOR” no Antigo Testamento. E o próprio nome vai de encontro ao seu ministério: “O Senhor é Deus e não há outro”.
Elias nasceu em Gileade, numa cidade chamada Tisbe.

Certo dia, ao falar com o Rei Acab, rei de Israel, Elias prediz uma seca de 3 anos, extensiva a todo o reino.
Entretanto, o Senhor Deus encaminha-o para junto do ribeiro de Querite para que bebesse daquela água. Deus disse ainda a Elias que enviaria corvos para que estes lhe servissem de alimento.

Deus sempre sustenta os Seus filhos.
A seca severa faz com que a água do ribeiro termine e Deus ordena a Elias que vá até Sarepta (I Reis 8:8-24).

Quando Deus é o bem supremo da nossa vida, percebemos que não há nada que lhe escape. Ele cuida dos seus filhos como ninguém e este episódio é a prova disso.

Deus, através de Elias, alimentou a viúva e o seu filho. Vemos aqui que a mulher soube dar prioridade ao que era prioritário: o pedido do profeta de Deus... Ela não hesitou em alimentar primeiro o profeta; só depois é que comeu e deu comida ao seu filho.
A visão de Deus é uma visão de comunidade; Eledeseja que abençoemos os outros em vez de vivermos isoladamente.

Há quanto tempo não abençoamos alguém com algo inesperado, mostrando assim o amor de Deus?
Depois deste episódio, o filho da viúva morre. Esta mãe, em profundo desespero por ter perdido o seu bem mais precioso, vai ter com Elias e diz-lhe não entender a razão de Deus levar o seu filhinho.

À semelhança da viúva de Sarepta, muitas vezes, nós também demonstramos falta de confiança em Deus ao sermos surpreendidos por um acontecimento inesperado. Isto, mesmo depois de termos sido abençoados por Deus e de termos sido alvo do Seu terno e amoroso cuidado.
Então, Elias ora a Deus pedindo que a Sua Glória se manifeste. Deus devolve a vida ao menino, mostrando assim que continuava a ser com eles.

Passemos agora para o capítulo 18.
Em consequência da seca, que já durava há 3 anos, Samaria estava a ser devastada pela fome... Então, o Senhor pede a Elias que diga ao rei Acab que vai mandar chuva...

Elias “usa” o profeta Obadias para agendar um encontro com o rei. Obadias tinha tido uma atitude muito graciosa. Ele correu riscos a fim de salvar uma centena de profetas de Deus das mãos da rainha Jezabel (uma rainha de uma malvadez extrema, a mais hedionda que Israel já havia conhecido).
Assim, Elias diz a Obadias que quer falar com Acab, que andava há muito tempo à sua procura.

Obadias hesita em promover o encontro com receio que Elias não compareça  e venha a ser alvo da ira do rei Acab. Obadias reforça a sua argumentação com o que já fez em prol dos profetas de Deus. Elais  tranquiliza-se e o encontro acontece.
Acab, que estava completamente cego para as questões espirituais, atribui a Elias e às suas profecias a culpa da fome extrema  que assolava a nação.

Quando estamos no erro, não temos a percepção do quanto ferimos a Deus por causa do nosso pecado. Elias diz-lhe precisamente isso. E, querendo mostrar-lhe que o verdadeiro Deus de Israel é Javé, ou seja, o único caminho para a Salvação. É então que acontece um episódio sobejamente conhecido. Elias convoca 450 dos profetas de Baal para um encontro no Monte Carmelo, onde fica demonstrado quem é o verdadeiro Deus, Quem é que realmente detém Todo o Poder.  Elias fez as coisas para que não restassem dúvidas,  para que a Glória de Deus fosse conhecida (v. 36). O seu objectivo não era ser um profeta popular ou relevante na sociedade. Ele pretendia que todos conhecessem que há um único caminho. Apontava já para Cristo.
‎Elias implorou a interveção divina a fim de mostrar que o Senhor é Deus e ele apenas um servo Seu (I Reis 18:36-37).

Muitas vezes, as nossas orações revelam o oposto. Invertemos os papeis. Desejamos ser os senhores da nossa vida e “damos ” a Deus o papel de servo. Deus é Senhor. Deus é Soberano. Nós somos seus servos.
Oxalá façamos nossas as palavras de Maria quando foi incumbida da missão de ser mãe de Jesus:  "Eis-me aqui Senhor... Cumpra-se em mim a tua Palavra".

Voltemos, agora, a nossa atenção para I Reis 19:1-4. Aqui, encontramos Elias com medo da terrível Jezabel. Não obstante já ter sentido, por diversas vezes, a mão poderosa de Deus a agir em prol da sua segurança, Elias desanima perante a ameaça de Jezabel. E, pensando não haver mais ninguém que cresse em Deus (havia, porém, mais 7 mil pessoas), ele pede a sua morte a Deus.
Então, Deus revela-se... E fá-lo no momento mais difícil da vida de Elias. Não é que não se tenha revelado antes... Revela-se é de uma forma convincente e tocante, mostrando assim quem Ele é.

É no deserto que nós crescemos. É no deserto que somos polidos. É no deserto que redefinimos o nosso foco. É no deserto que percebemos que a Graça de Deus nos basta.
Elias entendeu  isso e também percebeu que Deus continuaria com ele e que ninguém iria destruir os seus intentos.

“Se Deus é por nós quem será contra nós? Aquele que não poupou o Seu filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas” (Romanos 8:31-32).
Vamos agora até ao capítulo 21...

O Rei Acab agrada-se de uma vinha localizada ao lado do seu palácio e procura adquiri-la. A vinha é propriedade Nabot, que não a quer vender. Acab partilha com a sua esposa, Jezabel, a sua tristeza por não ter concretizado seu desejo de ter a vinha que tanto lhe agradava. Então, a maquiavélica Jezabel começa a maquinar um plano a fim de obter a vinha. Levanta falsos testemunhos contra Nabot, espalhando que este tinha amaldiçoado o Rei e a Deus, a quem ela própria nunca temera.
Isto resulta no apedrejamento de Nabot.  Jezabel apodera-se, então, da vinha de Nabot e oferece-a ao marido. Este rejubila com o presente e nem se interessa em saber como ela o conseguiu. Acab soube que Nabot tinha morrido, mas não se importou. Ou seja, o seu único interesse eram as possessões e o poder que estas lhe davam...

Deus incumbe o profeta Elias de levar uma mensagem a Acab: ele e os seus descendentes iriam perder a  vida (I Reis 21:17-20).
Os versículos seguintes mostram que foi o Rei, que incitado pela sua mulher, praticou imenso mal para com o Senhor. Ele era um homem que sabia a verdade, mas, não a vivia na totalidade.

Porém, ao ouvir o profeta, ele reconhece os seus erros, humilha-se e arrepende-se. Esta atitude agrada a Deus, que resolve não “enviar” a sua ira sobre o povo durante o reinado de Acab. Manteve apenas uma parte da sentença:  Acab morreria e os cães lamberiam o seu sangue. (v. 27-29)
Acab morreu passados 3 anos, porque, mais uma vez, ouviu os falsos profetas em vez de ouvir a Micaías, o profeta de Deus. Uma flecha perdida acaba por matar o Rei e os cães lambem o seu sangue, tal como Deus dissera que aconteceria.

Não há forma de enganarmos a Deus e de escaparmos ao Seu juízo.
O último acto de Elias como profeta foi com o Rei Acazias que substituiu Acab, após a sua morte (II Reis 2:1-2)

O Rei Acazias sofre uma queda e manda consultar os profetas de deuses estranhos...  Deus ira-se por não ter sido consultado, pois Deus é um Deus zeloso e não dispensa  a Sua Glória a ninguém (Isaías 42:8).
Entretanto, encontram o profeta Elias que lhes diz que por causa da consulta errada, morreriam.
O Rei enfurece-se com o mensageiro e mando-o matar. Por duas vezes, mandou um oficial acompanhado de 50 soldados. Porém, ao chegarem junto de Elias, Deus mata-os.

Nota-se aqui uma grande diferença na atitude de Elias em relação a episódios anteriores em que corria perigo de vida... Agora, já não tem medo.
Na terceira tentativa de o eliminar, o oficial enviado pelo rei reconhece que Elias é um homem de Deus e, por causa disso, Deus poupa a sua vida e a dos soldados (II Reis 1:15-16).

Entretanto, o tempo do profeta Elias na terra aproxima-se do fim. A escolha do seu sucessor já tinha sido feita, tendo recaído sobre Eliseu.
Eliseu acompanhou Elias até ao fim- a sua ascensão ao céu num carro de fogo até ao céu- e Deus concedeu a Eliseu o que ele desejava: o mesmo espírito profético que Elias tivera. A verdade é que o teve e, por vezes, confunde-se a vida de Elias com a de Eliseu, pois houve episódios muito parecidos...

Na vida de Elias, vemos 3 semelhanças com Cristo e 1 grande diferença:
- Ambos ressuscitaram o filho de uma viúva.

- Ascenderam ambos aos céus.

- Foram apoiados por anjos no momento mais difícil das suas vidas.

A grande diferença é que Elias desesperou perante a ameaça que pairava sobre a sua vida, tendo-lhe faltado a confiança.
Jesus Cristo, mesmo estando plenamente consciente do o que ia acontecer, entregou-se por nós, para que déssemos Glórias a Deus.

O profeta Elias apontava sempre para Cristo como sendo o único caminho para Deus e Cristo (Actos 4:12). Apontou tanto para Cristo que, muitos anos mais tarde, o confundiram com João Baptista, o precursor de Jesus.
Assim como a vida destas pessoas apontavam a Cristo, assim devem também apontar as nossas. Somos a imagem de Cristo? Focamos o nosso viver nEle?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Caminho para Cristo: Josias


O Pr. Jónatas Rafael Lopes iniciou uma nova série de mensagens a que chamou “Estrada para Cristo” no Antigo Testamento. O objetivo é mostrar que tudo, no Velho Testamento, aponta para a pessoa de Jesus, pelo que é perigoso fazermos  analogias entre as personagens e seus feitos heróicos e a nossa própria vida. Tendemos a pensar que a Bíblia é um livro de histórias de heróis, os quais devemos imitar a fim de sermos vitoriosos assim como eles o foram. Passamos a identificarmo-nos com determinada pessoa e o nosso foco passa a ser aquilo que poderemos obter da nossa vivência. Isto é, a nossa alegria passa a estar centrada nas bênçãos de Deus e não no Deus das bênçãos.

Assim, não devemos olhar para as histórias relatadas na Bíblia como algo que também sucederá na nossa vida, pois a Bíblia é um livro que aponta para Cristo e para o maravilhoso plano de reconciliação de Deus com a humanidade, consumado por Jesus na cruz.

Comecemos por analisar a vida do rei Josias e a forma como esta aponta para a pessoa de Cristo. Leiamos a história de Josias registada em II Reis 22 e 23. Eis o contexto social em que esta se insere:

Josias foi Rei de Judá (que resultou da divisão do Reino em Norte e Sul) de 629ac a 609ac. Josias era bisneto de Ezequias, que também foi rei de Judá (o 13º). Israel já tinha sido levado em cativeiro pelos Assírios e Samaria tinha sido tomada por eles.

O rei Ezequias, bisavô, procurou viver para Deus, destruindo mais uma vez todos os ídolos e procurando defender Judá da Assíria. O seu problema foi ter confiado no Egipto para assegurar a vitória sobre os ataques de que era alvo em vez de depositar toda a sua confiança no Senhor. Isso valeu-lhe uma severa repreensão do profeta Isaías.

Outro dos seus erros foi ter pedido ao Senhor mais 15 anos de vida, quando o profeta lhe disse que o seu tempo na terra terminara.

Deus acedeu ao seu pedido e concedeu-lhe esse tempo extra. Durante esse período, Ezequias fez amizade com o povo da Babilónia e recebeu-os no seu reino, contrariando assim a vontade do Senhor. Em consequência desse erro, o povo de Judá  experimentou mais um cativeiro. Vejamos como isso aonteceu:

Ezequias tem mais um filho – Manassés- que é  considerado um dos piores reis da história de Judá; o rei mais sanguinário de todos. A morte do seu próprio filho, que ele sacrificou ao deus Moloc é disso prova. Foi durante o reinado de Manassés que Judá adoptou todo o tipo de cultos a deuses estranhos  e mergulhou no Espiritismo.

Por causa deste reinado, o Senhor Deus prometeu que Judá seria julgado e levaria com a sua ira: mais um cativeiro. Isto mostra que os nossos pedidos podem ter consequências desastrosas!

Depois de Manassés, chega Amon, que morre dois anos após ter iniciado o seu reinado. Amon imitou o seu pai em tudo...

E neste ambiente que surge Josias, que é constituído rei com apenas 8 anos.

O livro de Crónicas refere que o Rei Josias procurou logo fazer reformas. Isto é, decidiu começar logo a alinhar o seu reino com a vontade de Deus. Josias mostra-se imediatamente preocupado com o Templo, pois este tinha sido desprezado durante muito tempo, desde 813ac. Ou seja, ao longo de mais ou menos  200 anos, não foram realizadas quaisquer obras de manutenção no Templo. Esta ausência de cuidado para com as coisas de Deus mostra que o povo se tinha afastado totalmente do Senhor.

Nos versículos  8 a 10, lemos que o sumo-sacerdote encontra o Livro da Lei e faz com que chegue até Josias. Ou seja, durante aproximadamente 200 anos, os sacerdotes fizeram o seu trabalho sem a Palavra de Deus*. Como é que é possível? Há quem sugira que a Palavra fora deixada de lado pois o contacto com ela punha em evidência o pecado presente nas suas vidas...

Aquele povo queria apenas as bênçãos e a proteção do Senhor. Não estavam dispostos a darem a sua vida em serviço a Deus.

Cristo é o melhor exemplo do que significa dar a vida por alguém. E, como“Aquele que diz que está nele, também deve andar como Ele andou” ( I João 2:6), será que estamos dispostos a imitar Jesus, dando a nossa vida em serviço a Deus? Ou estamos acomodados na nossa zona de conforto? Até que ponto servimos a Deus? Esateremos prontos para darmos a vida e a prescindirmos do nosso conforto por amor a Deus?

Por vezes, à semelhança do povo de Judá, também não sabemos onde está a nossa Bíblia... Oxalá percebamos a importância da leitura diária das Escrituras no nosso lar e da realização do culto doméstico.

Nos versos 11 a 13, vemos que, ao ouvir as Escrituras, o Rei Josias rasgou as suas vestes. Isto  revela  tristeza e pesar, mas também humildade. Ele reconhece assim que a sua posição (a mais alta do Reino) não tem qualquer valor. O rasgar das vestes era também sinal de reconhecimento do erro. Temos rasgado as nossas vestes perante Deus?

Josias compreendeu assim a razão do sofrimento do povo. As derrotas constantes eram consequência do afastamento de Deus. Não sabiam a importância de ouvir a Palavra, logo não a praticavam.

Entretanto,  perante a “ameaça” de um  novo cativeiro, Josias aconselha-se com a profetisa Hulda a fim de perceber melhor o que podia fazer para alterar o rumo.

Leiamos o verso 19 que mostra o resultado da atitude de arrependimento de Josias:

“O Senhor ouve as orações daqueles que se humilham perante Ele. E mais, Deus transmite paz a esses corações”.

Deus promete também a Josias que enquanto ele vivesse, o povo de Judá seria protegido da sua ira. Percebemos aqui também que mesmo quando os outros povos atacavam o povo de Deus, estavam sempre debaixo da Soberania de Deus.

Nada acontece que não seja da Sua vontade...

Há quanto tempo não nos humilhamos diante de Deus? Há quanto tempo não reconhecemos que nada somos perante Ele, ficando om o coração contrito?

É interessante notar que Josias não mudou a Palavra de Deus nem tentou encontrar abertura para o erro do povo, isto é, não tentou encontrar desculpas para os seus erros.

Vejamos, então, as reformas que ele fez:

No capítulo 23, vemos que ele renovou a aliança com o Senhor e leu as Escrituras em voz alta.

Como Rei, Josias disse ao povo que a obrigação de o seguir. Iremos depois perceber se o povo o seguiu de coração ou se o fez  apenas para cumprir as ordens do rei.

Josias destruiu e mandou queimar todos os ídolos e vestígios dos mesmos. Acabou com o crematório para que ninguém mais queimasse os seus filhos, uma prática comum naquele tempo.

Demoliu altares esantuários, aniquilou todo o tipo de espiritismo e tudo o que fosse dedicado a deuses, tantor em Judá como em Israel (Depois da morte do Rei da Assíria, Israel ficou ao abandono, pelo que Josias pôde ir para além dos limites de Judá). Ninguém o parava!

Levou, então, a cabo uma grande reforma... Como resultado, o povo voltou a celebrar a Páscoa, o que já não acontecia desde o tempo dos juízes. Isto evidencia a coragem de Josias, mas revela também a ingratidão do povo... Passaram 400 anos sem celebrarem a libertação da escravatura de que forma alvo no Egipto. Não somos nós assim também, tantas e tantas vezes? Pedimos muito, mas não rendemos ações de graça na mesma proporção...

A Josias sucedeu  um rei quase tão mau como Manassés, o Rei Jeoquim. Ele também leu a Lei, mas rasgou- a. (Notemos o contraste com a atitude de Josias).

O povo também voltou novamente às práticas antigas, pois as mudanças que fizeram não foram feitas de coração...

Por mais mudanças que possam existir,  se não formos transformados pela Palavra,  essas mudanças serão vãs...

II Coríntios 4:5 mostra que o nosso homem interior se renova a cada dia. Tem-se renovado? Tem buscado diariamente o Sennhor?

Na vida de Josias percebemos, então, o caminho para o Senhor Jesus. Toda a Bíblia aponta para Ele....

Uma interpretação errada deste texto poderia levar-nos a pensar que se fizermos todas as reformas necessárias na nossa vida, seremos vitoriosos em tudo. Ou seja, basta sermos como Josias...

A verdade é que este texto mostra que Josias aplacou a ira de Deus para com o povo,  mostrando assim o que o Messias iria fazer com a Ira de Deus.  Jesus, como Messias prometido, ao dar a Sua vida, levou sobre si a Ira de Deus que estava destinada a nós...

Josias abençoou com a sua vida. Jesus deu a Sua vida para nós termos vida. Logo, o nosso foco é Jesus, a nossa vida é Jesus.

As reformas de Josias são o sinal da santificação que um “Nascido de Deus” tem que realizar na sua vida.

Jesus veio dar àqueles que o Pai lhe deu (João 10) a maior mudança que pode haver . Ele veio dar vida àqueles que estavam espiritualmente mortos (Ef.2:1).

Não imitemos Josias com o objetivo de obtermos  de Deus aquilo que almejamos. Olhemos para ele como um exemplo do que é viver para Deus.

Que mudanças temos que realizar na nossa vida para que resplandeçamos a Glória de Deus?

 

domingo, 1 de novembro de 2009

A verdadeira história de Caim...

O caro leitor já alguma vez colocou, como hipótese, a possibilidade de ter sido trocado no acto de nascer? Já equacionou sobre a possibilidade de nenhum daqueles que considera ser seus progenitores o serem?

Dir-me-ão e com plena aceitabilidade: «Isso é outra narrativa, é outra história, que não a minha».

Há uns anos atrás coloquei as mesmas questões a uma das maiores especialistas de José Saramago, tendo como base o livro que suscitou tanta polémica na altura, «O Evangelho Segundo Jesus Cristo». E a referida especialista, muito incomodada com a questão, respondeu da mesma forma que referi no 2º parágrafo deste reflexão. Ao não entender a minha questão, eu acrescentei que se passava exactamente o mesmo com o livro de J. Saramago. Aquela história nada tinha a ver com a história do nascimento de Jesus Cristo, de acordo com os Evangelhos que as várias Igrejas consagraram como Canónicos.

A história criada por Saramago é, efectivamente, uma outra história com digressões totalmente opostas àquelas que os Apóstolos nos legaram. E o mesmo se trata com a história de Caim, como iremos observar.

Os gregos tinham duas palavras para o determinante indefinido «outro»: «allos», para designar outro da mesma natureza, do mesmo tipo e valor; «heteros», para designar outro de natureza diferente. É isso que vemos, por exemplo em Gálatas 1: 6 e 7. Paulo diz aos crentes da Galácia que se admirava de eles estarem passando para outro «heteros» evangelho, o qual não era outro «allos», da mesma natureza. E refere Paulo que os portadores do «heteros evangelho» desejavam perturbar e perverter o evangelho de Cristo. E a repulsa Paulina em relação a esses perturbadores é de tal grandeza que ele os considera como «anátemas» (Gál. 1:9).

O anterior parágrafo serve para reforçar o que afirmámos na introdução. Tanto «O Evangelho de Jesus Cristo» como «Caim» são pseudo-evangelhos, de natureza bem distinta e com base e filosofias bem preconceituosas quanto à Bíblia e ao Deus que os cristão adoram e que consideram como Seu autor. E isto seria suficiente para não dramatizarmos as «digressões», as viagens por outros mares, as interpretações, os comentários, as explanações, a agressividade verbal, a intolerância religiosa, etc, que caracterizam J. Saramago e algumas das suas obras, algumas das quais já estudei. Não é, nem será, o último a querer assumir-se como senhor do universo, como intelectual iluminado, considerando os cristãos como «parvos» no sentido etimológico da palavra, ou seja, de pequena dimensão intelectual. Tantos outros o tentaram antes dele e o que conseguiram foi exactamente o contrário das suas reais pretensões. A oposição ao Cristianismo gera sempre mais crescimento! Aleluia! Por isso, uma palavra de incentivo aos leitores cristãos ... e uma «palavra de agradecimento» a J. Saramago. Ao querer J. Saramago anular a minha fé, mais o Espírito Santo a renova, mais ela é sustentada em Cristo. Que bom!

Vamos, pois, à verdadeira história de Caim, relatada em Génesis, Capítulo 4, do verso 1 ao 16. E agradeço ao amigo leitor a sua boa-vontade para a leitura desta reflexão. Irei apresentá-la em ligeiros pontos, para mais fácil leitura e reflexão da vossa parte. No entanto, como nota adicional, muito importante, ninguém que se abeira da Bíblia deve descurar uma regra essencial de Hermenêutica - «Um texto só pode ser interpretado à luz do seu contexto». Por outras palavras, um texto bíblico não pode ser isolado do seu contexto mediato e imediato, próximo ou distante, ou seja, a Bíblia interpreta-se com a própria Bíblia. E quando nos referimos à Bíblia referimo-nos a toda ela: Velho Testamento e Novo Testamento. Assim:

1º - Tendo em conta o tempo e o espaço inerentes a qualquer narrativa, verificamos que o cap. 4 surge depois do afastamento de Adão e Eva do Éden, facto muito importante, visto que nos mostra a consequência da rebelião do homem em relação a Deus;

2º - Esta história (verídica e não ficcional) passa-se no âmbito de uma família onde Deus não está presente, já que o pecado é exactamente isso, ou seja, relações cortadas com Deus, na medida em que o homem prescinde de Deus. E a História regista variadíssimas tragédias com pessoas e em famílias onde o ateísmo reina ... e depois questionam: «Onde está Deus?»; «Que Deus é este que deixa que haja tragédias, violência, morte?». E a resposta é simples: Está exactamente no lugar onde estava quando decidiram viver de costa voltadas para Ele. Antes não queriam nada com Deus; agora reclamam por Ele não agir. Curioso, não é?

3º - Nos primeiros versículos do cap. 4 de Génesis verificamos que não havia qualquer diálogo entre Deus e a primeira família no mundo. Também verificamos que não há qualquer exigência de Deus em relação àquilo que pretendia do casal. Porquê? As directrizes Divinas já tinham sido comunicadas quando a relação com Deus ainda não tinha sido afectada pelo pecado da rebelião, do «querer ser igual a Deus», ideia inculcada na mente do casal pelo diabo. Refiro-me, neste contexto, a uma: Deus era o Senhor de todas as coisas e o homem apenas mordomo. Era uma questão de soberania, posta em causa por Adão e Eva, que não queriam ser responsabilizados por Deus. Algo que ainda hoje acontece, fundamentalmente a nível das agressões à Natureza;

4º - Nos primeiros versículos do mesmo capítulo, verificamos duas curiosas posturas nos filhos que entretanto nasceram no primeiro lar terreno. Não sabemos o que é que os pais lhes terão ensinado sobre a Soberania do Deus que os criara e contra quem tinham transgredido. O que sabemos é que «Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor» e Abel «trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste». (cap. 4:3 e 4). Sabemos depois que o Senhor se tinha agradado de Abel e da sua oferta, ao passo que não se tinha agradado de Caim e da sua oferta.

5º - Notemos aqui três pontos essenciais:

a) O texto refere que o agrado de Deus foi, em primeiro lugar, pela pessoa. Só depois é que se refere aos produtos. Toda a Bíblia é bem clara na importância que Deus dá à criatura que Ele criou, dando-lhe mesmo proeminência sobre o resto da criação;

b) Abel levou ao Senhor as «primícias» do seu rebanho. Isto quer dizer que ofereceu ao Senhor as primeiras coisas, conferindo-lhe o primeiro lugar. Podia guardá-las para si; podia dar-lhe o que não presta; podia dar-lhe as sobras; etc., (algo que é paradigma de muitas pessoas), mas Abel considerou que tudo o que era e tinha o devia ao Senhor Deus que havia criado os seus pais: Gratidão? Reconhecimento da soberania de Deus? Reconhecimento do seu estatuto como mordomo e não dono? Sim! Sim! Sim!

c) A questão da atitude e do carácter dos irmãos da nossa história não se circunscreve a Gén. 4. E como a Bíblia interpreta a própria Bíblia, porquanto o Autor é o mesmo, temos que nos socorrer de outros textos, apesar de tão distantes no tempo,. Nomeadamente de Hebreus cap. 11 versículo 4, que nos diz «Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifico do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também depois de morto ainda fala». Ah! Como sabe bem validar as impressões colhidas em Génesis! Abel foi colocado na galeria dos heróis da fé, não por causa da sua oferta, mas por causa do seu carácter. Deus conhecia, obviamente, as motivações, os pensamentos, o carácter de cada um dos ofertantes. E se Deus era o destinatário das ofertas, também tem todo o direito de avaliar o que recebe, mas igualmente o que está por detrás delas, bem como o que a oferta encerra dentro de si mesma. E essa foi a razão pela qual Deus aceitou Abel e recusou Caim e as suas ofertas.

6º - Voltando o nosso olhar para Gén. 4, versículos 5 e 6, verificamos que Caim ficou com o seu semblante descaído, possuído por ira. É interessante notar que é Deus que toma a iniciativa de dialogar com Caim! Que Deus é este que se incomoda com as raízes de amargura que se instalam na vida dos homens? Não é, certamente, um Deus vingativo, cruel, distanciado das suas criaturas. É um Deus que aborda as coisas como elas são e sabe que se o homem não for gestor dos seus impulsos, estes tornam-se donos de si mesmo;

7º - Na sequência do diálogo entre Deus e Caim, Gén. 4:7, também verificamos três coisas relevantes:

a) Deus concede a Caim o direito de pensar, de entrar dentro de si, algo muito importante para a noção daquilo que somos. Se o homem usasse essa arte de se interrogar a si mesmo, veria como há tanta coisa errada dentro de si;

b) Deus chama a atenção a Caim que o pecado jazia ali bem perto de si, à sua «porta». E acrescenta ainda que «o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo». É uma questão de livre arbítrio. Deus não nos criou autómatos, como robôs, como executores da Sua vontade e sem vontade própria. Se assim fosse, haveria muitos a reclamarem: «Eu não sou, nem posso ser ateu; eu não tenho vontade própria, etc». No entanto, na medida em que Deus dá-nos a possibilidade de dizermos-lhe sim, ou não, reclamamos contra Ele porque Deus não agiu nos espaços de onde O retirámos.

c) Em nenhum momento do diálogo entre Caim e Deus se nota um desejo de Caim matar o próprio Deus. Saramago diz que «Caim é humilhado por Deus e mata o seu irmão porque não pode matar Deus, que era o que queria». Em nenhum momento da narrativa transparece tal desejo. Nem nas entrelinhas, a não ser que Caim tivesse desabafado com Saramago sobre essa questão. Contudo, parece-nos que tal desejo, se ele existisse, Deus o revelaria, já que não teria razões para o omitir. Por outro lado, se a hetero-história de Saramago fosse verdade, ainda mais poderíamos realçar a grandeza de Deus: «Que Deus é este que consegue dialogar com alguém que o quer matar?; Que Deus é este que pretende anular a influência da ira no coração de quem lhe quer tanto mal?». Afinal, se a história Saramaguiana fosse real, ainda mais realçaria a grandeza do Deus que eu sigo, amo e sirvo;

8º - A partir do versículo 8, verificamos de que nada serviu o diálogo de Deus com Caim. Foi inequivocamente inútil. Como foi e é com muitas pessoas que somente querem que Deus os ajude, sem qualquer compromisso com Ele; como foi e é com pessoas que se aproximam de Deus com arrogância, com presunção, sem qualquer interesse em se submeterem às Suas directrizes. A esse tipo de pessoas Pascal responde:« Deus dá sinais claros a quem O deseja encontrar e sinais escuros a quem não o deseja encontrar». Afinal. o pecado tinha criado raízes em Caim. Não foi gestor dos seus malvados sentimentos ... e ... de forma premeditada, convidou o seu irmão a irem até ao campo (Gén. 4:8). Ali não teria testemunhas que pudessem verbalizar o acto que premeditara. A não ser aquEle que observa todas as coisas, visíveis e invisíveis, mesmo que haja quem não acredite nisso. E a prova é que depois do acto consumado, Deus volta a dialogar com Caim. Qual a razão pela qual Saramago não vê nesse facto a prova irrefutável da Omnipresença e Omnisciência de Deus? O seu preconceito contra Deus impede tal reflexão;

9º - A partir do versículo 9 vemos Deus a dialogar, por Sua iniciativa, com Caim. E deste diálogo retiramos três apontamentos:

a) Deus procura o pecador, apontando-lhe o seu pecado. Este facto revela, de forma inequívoca, que não estamos em presença de um Deus violento, que gosta de sangue, que se alegra quando reina a violência. Pelo contrário. Uma coisa é Deus permitir que a maldade se espalhe, como resultado do alheamento dos homens e das nações em relação a Si mesmo, outra coisa é Deus estimular, apoiar, aprovar. Não podemos concluir, com toda a honestidade intelectual, qualquer vislumbre de um Deus tirano, déspota;

b) Caim foge e sacode a culpa dos seus ombros, que não do coração, visto que ele sabia o que tinha feito. Vejamos o versículo 9: «Disse o Senhor a Caim «onde está o teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso sou eu guardador do meu irmão?». No fundo, Caim representa todos os homens que não assumem as suas responsabilidades, que conseguem passar a mensagem de inocência, esquecendo-se que, acima dos tribunais e julgamentos humanos, está um Deus que tudo sabe e que a seu tempo revelará o que está oculto;

c) Será que Caim tem defesa? Quem foi cantado na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11, foi Abel. Como se fosse um daqueles que «por obras valerosas se vão da lei da morte libertando». Havia que contrariar esse destino que Hebreus consagrou e o nosso Luís de Camões evidenciou na sua maravilhosa Epopeia. E eis-nos chegados a esse tempo. Os maus também merecem ser «cantados», mesmo que seja por um exemplar único e ... «Nobel da Literatura». A vida é assim. E a liberdade de pensamento e de expressão isso possibilitam. No entanto, parece-nos ser mais evidente que quem merecia ser cantado por Saramago era a vítima e não o agressor. «Mudam-se os tempos e muda-se a vontade».

Muitas outros detalhes poderíamos alinhavar nesta reflexão. Todavia, não queremos abusar da paciência dos nossos leitores. No entanto, permitam-me realçar, de forma muito sintética, o resto da história.

Deus continua o seu diálogo com Caim. E confronta Caim com o seu pecado. O nosso Deus não convive com o pecado e, de forma muito clara, leva o homem a reflectir sobre a sua condição de pecador. E igualmente de forma muito transparente revela que o pecado produz consequências. Os homens não querem que haja salário para o seu pecado. Querem pecar, mas não querem sofrer as consequências das suas transgressões. Mas a vida espiritual é assim mesmo, mesmo que os homens não o queiram.

Quando o Senhor Deus, de acordo com Génesis 4:11, disse que Caim seria maldito em toda a terra, Caim perturbou-se. É natural. Este é o retrato dos homens que vêem recair sobre si mesmo as consequências das suas opções. Contudo a narrativa prossegue. E vemos que Caim argumenta, no verso 14, que seria fugitivo e errante pela terra e manifesta medo de ser objecto de qualquer crime contra si ... mas, acima de tudo, e em primeiro lugar, refere «Eis que hoje me lanças da face da terra e da tua presença hei-de esconder-me». Não foi pelo seu mérito, ou por qualquer erro Divino, que Caim viu ser alterado tal cenário, mas exclusivamente pela benignidade de Deus. «Que Deus é este que perdoa tamanho pecado?» Trata-se de um Deus que detesta o pecado, mas ama o pecador e concede-lhe a oportunidade dele se arrepender! Que amor tão singular, exactamente evidenciado no Gólgota, pelo Emanuel, Jesus Cristo, quando, ao ser objecto de tanto ódio, ao ver o Seu sangue a jorrar pelo Seu corpo e pela cruz onde estava a ser crucificado, consegue dizer: «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem».

Há pessoas que não vêem porque não querem ver! Eu sei que a fé não é de todos, como nos refere Bíblia, mas também ela diz: «Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia» (Salmo 34:8). Este é o desafio que faço a Saramago. E esta é também a minha oração: «Senhor, perdoa-lhe porque ele não sabe o que diz. Senhor, dá-lhe ainda a possibilidade de ele aceitar dialogar contigo, em atitude de humildade e quebrantamento. Oro para que ele esteja preparado para o acerto de contas contigo, antes que se concretize a ida do seu corpo para o pó, de onde foi formado, e o seu espírito volte para ti. E que tu, Senhor, sejas mais uma vez exaltado mesmo diante de quadros aparentemente desfavoráveis!

Pr. José Lopes